©Gilmar Simões

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... O olhar fotográfico se define pela presença  do objeto,  também pela ausência, pelo  que  não está e que talvez deveria estar, ou pelo que é encoberto e dissimulado e merece ser posto à luz; à luz do dia ou à luz do flash.  Consequentemente a fotagrafia é um vagar por aqueles lugares quase inatingíveis e de imprecisos ou inacessíveis, encobertos,  é um descobrir, aproximar, resgatar o oculto outra vez.

A fotografia não pretende identificar, resgatar, arrastar, transladar o oculto para deixá-lo  a descoberto; não aponta   ao detalhe para deixá-lo nu, apropriar-se de seu pudor  e pô-lo  em ridículo, se não porque é aí onde se esconde o significado, é aí onde a presença começa a cobrar transcendência.

O olhar fotográfico  investiga na coisa proibida, vasculha no temido, já  não  para fiscalizar e sim para oferecer uma oportunidade ao objeto fotografado de revelar-se  e porque não dizer,  de rebelar-se.   

O ollhar é certamente um olhar limitado; limitado fisicamente, sensivel  e/ou ideologicamente. Em consequência é também um olhar fragmentado que dá lugar  a uma  imagem de fragmentos do mundo. No entanto, nada nem niguém  neste mundo tem uma coerência intrínseca; ela depende do significado, do sentido que queiramos  ou possamos outorgar  à experiência da e na vida.

A imagem é um produto do olhar do fotógrafo oferecida ao olhar do espectador. É o lugar para  onde se translada o objeto fotografado,  com suas evidências  e suas sombras. Deste modo o objeto fotografado renasce e adquire nova vida, vida de imagem, vida que alimenta o imaginário; o imaginário do que olha a imagem, daquele que observa a fotografia. 

A imagem, portanto, não encerra  nem congela o objeto fotografado; pelo contrário, ao representá-lo,  libera-o  dos estereótipos das cadeias  de preconceitos a que o olhar comum o condena.

A imagem dá garantia de distância; e esta dá, por outro lado, um desprendimento   da experiência em nível físico; desprendimento que não busca romper a relação entre o imaginário  e a realidade, mas aquela  que é necessária para pensar... pensar-se  um mesmo, pensar o outro.   

A imagem não é uma ilustração de um texto escrito; a imagem é em si mesma um texto; um texto para ler, interpretar, decifrar,  comentar, discutir... É um texto que  deve provocar a palavra, a palavra do outro. A fotografia é então um registro interativo e que serve de  reflexão do acontecer  no mundo, do acontecer na rua... no estúdio.

A fotografia, o olhar que implica e a imagem que produz não é atemporal. A fotografia nega esse eterno presente romântico e onírico, para incertar-se(inserir-se, envolver-se) no momento, na história, na vida mesma. A fotografia é, pois,  um ato contextual que reivindica o tempo e o espaço, o aqui e o agora como condições para o deciframento e o entendimento. A fotografia não é, pois,  somente querer  produzir  vagas lembranças , nem fotos para recordar, correr  atrás da fugacidade do tempo perdido, sem testemunhos do que acontece no instante em que se aperta o botão da câmara, instante que  igual ao detalhe ganha profundidade e sentido, desde o momento em que se sabe transcender os limites predeterminados.

 

                                                                              

*  Gilmar Simões (tradução) y  Alessandra Galimberti (antropóloga) Ayacucho, Perú -2000)

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